O pião é um brinquedo muito antigo, geralmente feito de madeira, em forma de pêra, com uma ponta metálica
na parte afunilada. Ele pode ter formato e tamanhos diferentes, como os alongados, os mamonas e os carrapetas, estes colocados para rodar com um giro rápido feito pelos dedos polegar e indicador de quem o tem em mãos. Os demais modelos são lançados ao chão por um cordel enrolado neles, ou com o auxílio de uma mola, e dependendo da força dada a esse impulso o pião pode girar co
m maior ou menor velocidade, sendo que no primeiro caso é costume dizer-se que ele está dormindo, ou está sereno.
O brinquedo foi trazido para o Brasil pelos portugueses ainda nos primeiros tempos da colonização. Registros antigos o incluem entre os jogos da sociedade lusitana do século 15, mas sua origem é bem anterior a essa época, porque Pitaco (650-569 a.C.), um dos sete sábios da Grécia, já falava de uma es
pécie de pião que era colocado
para girar com um chicote. Acredita-se também que a peça era um divertimento das crianças romanas, pois autores daquele tempo a mencionam em seus escritos. Virgílio (70-19.a.C) um dos maiores poetas latinos, faz alusão ao brinquedo em sua obra Eneida, enquanto Pérsi
o (34-62), poeta e moralista que satirizava os costumes de seus contemporâneos, foi um dos intelectuais que falaram sobre ele.
O jogo do pião tem regras e técnica própria. Na de arremesso, duas formas são mais observadas: a conhecida como fincão, onde a corda, ou fieira, é enrolada no pião e a outra extremidade presa ao dedo indicador do jogador, que coloca a ponta metálica do brinquedo voltada para cima e o arremessa ao chão, fazendo com que caia de bico no terreno de terra batida e sem pedras. Então, enquanto o pião “dorme” e assobia lentamente, o jogador pode recolhê-lo entre os dedos indicador e médio, deixando-o girar na palma da sua mão. O outro sistema é chamado
de camarão e nele o jogador repete o procedimento anterior, só que aí o pião é colocado de ponta para baixo e a fieira puxada sem muita força, fazendo o pião rodar devagar e tombar em pouco tempo.
Entre as modalidad
es de jogo está a simples, ou roda pião, praticada por uma pessoa, e a do desafio, com vários participantes tentando acertar o interior de um círculo. Os que não conseguem fazer isso são obrigados a colocar o seu dentro da roda, dando início a uma disputa pela posse dos que foram assim “guardados”. O jogo do pião requer alguma habilidade, que é constantemente desenvolvida entre os meninos através da prática diária. Os mais experientes, ou mais treinados, fazem o pião ficar girando na palma da mão, ou então sobre a unha do polegar, ou então passam a fieira por baixo do pião enquanto ele está girando, sem que este pare o seu giro. Como em todas as brincadeiras infantis existem regras estabelecidas pelo grupo, que são rigorosamente obedecidas pelos participantes sob pena dos infratores serem expulsos do jogo. Existe também vocabulário próprio.
No passado, quando nossas ruas e praças públicas eram freqüentadas alegremente por meninos e meninas sem os medos e receios que hoje obrigam pais e m
ães a mantê-los trancados em casa, diante de um aparelho de tevê, o jogo de pião era praticado com entusiasmo por crianças e jovens de todas as condições sociais, porque demonstrava, sobretudo, a destreza, habilidade e pontaria de quem o praticava. Desse tempo resta a lembrança das disputas entre dois ou mais arremessadores, cada um de olho no pião do outro, em brincadeiras que se prolongavam durante parte do dia. Muitos versos contam a história do rodar pião, como por exemplo, a seguinte adivinhação registrada pelo escritor e ensaísta português Joaquim Teófilo Fernandes Braga (1843/1924): “Para andar lhe pus a capa / E tirei para andar / Que ele sem capa não anda / Nem com ela pode andar / Com capa não dança / Para dançar se bota capa / Tira-se a capa para dançar”. No caso, capa é apenas o cordão que enrola o pião para fazê-lo girar.
O folclorista Luiz da Câmara Cascudo descreve a pequena peça como "Pinhão, brinquedo de madeira piriforme, com ponta de ferro, por onde gira pelo impulso do cordão enrolado na outra extremidade puxado com violência e destreza. (...) O strombos dos gregos e o turbo dos romanos são o mesmo jogo de pião das crianças de hoje, e datam pelo menos da pré-história da civilização (...) pois alguns piões de argila primitivos figuram na
coleção de Schliemann”. Heinrich Schliemann foi um arqueólogo alemão - 1822/1890 - que adquiriu fama pelas explorações arqueológicas na Grécia, especialmente em Micenas.
Recentemente um anime chamado Beyblade ressuscitou o habito do brinquedo. Mas são versões automáticas que nem se compara as técnicas que eram usadas para girar o antigo brinquedo.