Isto aqui é uma merda!". Essas palavras, gritadas por Ely Barbosa diante do editor do gibi Os Trapalhões, em 1979, foram fundamentais para que a publicação deixasse de ser apenas um título fadado ao cancelamento e ao limbo na memória dos leitores e se tornasse uma das melhores revistas em quadrinhos já produzidas no Brasil.
A versão HQ do quarteto de humoristas surgira na esteira do sucesso de seu programa, exibido desde o ano anterior na TV Globo, depois de passagens pelas emissoras Record e Tupi. Também se esperava um prazo de validade para a publicação, da mesma forma que, antes e depois, outras personalidades da televisão brasileira viram acontecer rapidamente com os gibis que protagonizaram.
Essa previsão teria se confirmado se Ely Barbosa não tivesse atirado um exemplar da revista na mesa do editor da Bloch e dito a ele, curta e diretamente, o que pensava sobre o conteúdo da publicação.
O estúdio do desenhista assumiria a criação das histórias de Os Trapalhões, que três anos antes, em 1976, havia estreado nas bancas. O problema era que a direção editorial não agradava ao artista.
A liberdade criativa acabava tolhida pelo estilo de fidelidade rígida ao humor apresentado no programa de TV, que impunha aos argumentistas e desenhistas os esquetes longos e outros elementos que funcionavam melhor na tela pequena, bem como um visual quase realista (ou menos caricato do que deveria ser) dos personagens. Para se ter uma ideia, no início as capas não traziam ilustrações e se valiam de fotos posadas com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
No primeiro ano, a revista chegou a dividir mensalmente suas páginas com histórias do Gato Félix, de Buck Zé e da dupla de bichanos Leco e Beto, um claro exemplo de como o gibi não se sustentava apenas com aventuras dos personagens-título.
A reação agressiva de Ely Barbosa foi um divisor de águas. A partir daquele momento, a revista tomou um rumo diferente e, como se fosse o fruto de um desvio de linha temporal que a salvou de um destino antes imutável, ganhou novo visual, conceito ousado - condizente com o amplo leque de possibilidades imaginativas de uma HQ - e ecletismo de estilos de desenho e humor. Tudo isso capitaneado pelo estúdio que ganhou plenos poderes para tocar a publicação à sua imagem e semelhança artística.
O resultado foi um gibi à parte do universo da televisão, seguindo um caminho próprio que não dependia da imagem do programa (apesar de usar quadros como aTrapasuat, paródia do seriado S.W.A.T., grande sucesso dos anos 1970) e conquistou os públicos jovem e adulto.
E assim, por uma década, permaneceu incólume diante de fatos significativos que aconteceram com o grupo humorístico nesse período, como a oscilação de índices de audiência do programa televisivo e a separação e reconciliação dos Trapalhões.
Liberdade criativa
Escracho. Surrealismo. Metalinguagem. E, por cima de tudo, uma boa dose de politicamente incorreto.
Histórias sobre mulheres, bebidas, malandragem, machismo e violência (no estilo caricatural dos cartuns, vale frisar); piadas de teor sexual; brincadeiras com homossexuais e outros temas apimentados que hoje seriam tratados com excessiva delicadeza foram marcas registradas da revista dos Trapalhões na Bloch.
A regra era deixar o humor correr solto, fosse de qualquer gênero, desde que não beirasse o limite do mau gosto, pois o gibi também era lido por crianças. Além disso, os humoristas ficavam de olho no que era feito com sua imagem nos quadrinhos, muitas vezes emitindo sugestões (à guisa de determinações) sobre o visual e características da personalidade de suas respectivas versões cartunescas.
Mas isso não impedia que a Censura - aquela com "C" maiúsculo, que imperava nos tempos da ditadura militar no Brasil - aprontasse com as HQs que estavam prestes a ser publicadas em Os Trapalhões.
O cartunista Bira, que trabalhou na revista entre 1980 e 1982 e no expediente assinava como Ubiratan Dantas, conta que fez o argumento e os desenhos de uma história - roteirizada por Orlando Costa - em que os super-heróis resolveram entrar em greve e exigiam, dentre outros benefícios, férias remuneradas e FGTS. À frente deles estava o Homem-Lula, referência nem um pouco sutil a Luís Inácio Lula da Silva, então líder sindical que provocava dores de cabeça nos militares.
A HQ foi alterada por ordem da editora.
"As ideias nonsense surgiam mesmo dos roteiristas. Sérgio Valezin, Genival Souza e Orlando Costa tinham uma imaginação muito fértil e se divertiam criando as situações mais inusitadas, como personagens soltos no vazio das páginas. O próprio Ely tinha histórias completamente doidas", lembra Bira.
Um bom exemplo dessa loucura criativa é uma piada rápida de página única, na qual Didi está parado ao lado de um ponto de ônibus e, repentinamente, surgem dois olhos com pernas e braços, que formam uma fila atrás dele. Diante da expressão curiosa de alguém que passa por ali e vê a estranha cena, vem a explicação infame do trapalhão: "Isso é um ponto de vista".
Tiradas
Os famosos super-heróis dos quadrinhos eram alguns dos principais motes para piadas. Super-Ômi, Super-Veio, Nega Maravilha (e seu grotesco poder de usar o odor das axilas para derrotar os vilões), Frangasma, He-Gay, Batimão e Robinho - este último, comumente afeminado - e muito mais supertipos foram alvos de diversas sátiras.
Outras criações dos gibis compareceram às páginas de Os Trapalhões, como Asterix, que virou Didirix, o "cearês" inimigo do império de Brizolanus - paródia de Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro.
Sobrava também para as atrações da televisão. Uma delas foi a minissérie policial Bandidos da Falange, produzida e exibida pela TV Globo em 1983, transformada em Bandidos da Solange no gibi. E ainda havia espaço para alfinetar programas de auditório badalados como oCassino do Chacrinha.
Personalidades como Michael Jackson, Silvio Santos, Xuxa e diversas outras não escaparam da verve satírica da revista e foram responsáveis por momentos clássicos da publicação, iconoclasta por natureza.
E se política, religião e futebol não devem ser discutidos, os quadrinhos dos Trapalhões não conheciam essa máxima. Por suas páginas desfilaram tiradas contra governadores de estado e presidentes da República, passando pelo sumo pontífice da Igreja Católica, papa João Paulo II, e não esquecendo de cutucar qualquer clube de futebol que calhava de estar mal das pernas no campeonato ou era rival do time de algum roteirista.
Na prancheta
Toda essa diversidade não se limitava aos roteiros. O estilo de cada desenhista era respeitado e permitia ao gibi uma fuga da padronização gráfica de quadrinhos como os da Turma da Mônica e da Luluzinha, sucessos contemporâneos de Os Trapalhões.
O model sheet criado pelo chileno Carlo Cárcamo, da primeira equipe de artistas da revista, era apenas um norte. "A gente seguia esse modelo com uma certa liberdade", afirma Bira.
Graças a isso, era possível ao leitor ter o seu desenhista predileto. Pelo gibi passaram nomes fortes no cenário das HQs nacionais, como Watson Portela e o ex-quadrinhista Disney Fernando Bonini.
Mas era o traço inconfundível de Eduardo Vetillo o que mais chamava a atenção. Isso explica a prolífica produção do artista no tempo em que esteve na revista.
O dinamismo e o exagero visual dos desenhos de Vetillo garantiam a comicidade das histórias ao simples passar de olhos do leitor.
Era também o artista que mais ousava na diagramação das páginas, invariavelmente lançando mão do artifício das cenas "sangradas", em que os personagens ou o cenário não obedecem aos limites dos quadros.
Por um breve período dos anos 1980, o desenhista fez um trabalho paralelo em outro gibi da Bloch, Spectreman, adaptação do seriado japonês homônimo exibido no Brasil.
Na década de 1990, Vetillo desenhou algumas HQsDisney para a Editora Abril, na qual precisou adaptar sua arte frenética ao estilo gráfico mais comedido dos personagens da turma de Patópolis.
Nas bancas
Foram 83 edições de Os Trapalhões publicadas até 1986. Durante esse tempo, outros títulos dos personagens foram lançados e formaram uma família com almanaques, superalmanaques e o spin-off Aventuras do Didi, título mensal que apresentava somente histórias do trapalhão mais destacado da trupe.
Um álbum com 210 figurinhas autocolantes, lançado pela Bloch em 1982, também fez parte dessa fase de multiplicação de títulos.
Em 1987, a revista aposentou o formatinho, cresceu para o formato americano e virouSuper Trapalhões, que em cada edição trazia histórias sobre um único tema, a maioria envolvendo super-heróis. No rol dos clássicos está a edição de estreia, com uma impagável sátira a Guerra nas Estrelas (Star Wars).
Na mesma época, a revista Aventuras do Diditambém mudou de conceito e formato, alterando o nome para Didi: Passatempos e Quadrinhos.
Ambos os gibis foram descontinuados no final daquele ano, depois de nove edições de cada título.
Quando perguntado sobre os motivos que levaram ao fim as HQs dos Trapalhões na editora Bloch, Ely Barbosa não soube (ou preferia não) responder com certeza. Mas especulava que os quatro humoristas tinham planos financeiramente mais rentáveis e, por essa razão, não renovaram o licenciamento.
"Na época, alegaram que as vendas estavam caindo. Mas acho que foi problema de contrato entre o Renato Aragão (o Didi) e a editora", faz coro o veterano Bira.
Se há alguma dúvida sobre isso, basta lembrar que em janeiro de 1988, cerca de três meses depois de suas derradeiras edições na Bloch, Os Trapalhões aportou na Editora Abril em uma versão diferente: dessa vez, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias eram crianças e suas aventuras passaram a ser produzidas por um novo estúdio, o do quadrinhista César Sandoval, criador da Turma do Arrepio.
Publicados por uma editora de maior porte e com revisão de posicionamento de mercado, os personagens, agora voltados exclusivamente para o público infantil, alcançaram sucesso na área de licenciamento e estamparam as embalagens dos mais variados produtos de diversos segmentos do varejo, condição nunca imaginada por sua encarnação anterior, que não gozava desse apelo.
Os pequenos trapalhões sobreviveram na Abril até 1994. Dois anos depois, a Bloch ensaiou a volta dos personagens adultos em As Aventuras do Didi, que não trazia as versões de Mussum e Zacarias - os humoristas haviam falecido no início daquela década.
Sem o mesmo estilo gráfico e conceitual da fase áurea que consagrou o gibi dos Trapalhões, a tentativa de revivê-la durou apenas três edições.
Um melancólico final que não abalou a rica história dos Trapalhões na editora.
A versão HQ do quarteto de humoristas surgira na esteira do sucesso de seu programa, exibido desde o ano anterior na TV Globo, depois de passagens pelas emissoras Record e Tupi. Também se esperava um prazo de validade para a publicação, da mesma forma que, antes e depois, outras personalidades da televisão brasileira viram acontecer rapidamente com os gibis que protagonizaram.
Essa previsão teria se confirmado se Ely Barbosa não tivesse atirado um exemplar da revista na mesa do editor da Bloch e dito a ele, curta e diretamente, o que pensava sobre o conteúdo da publicação.
O estúdio do desenhista assumiria a criação das histórias de Os Trapalhões, que três anos antes, em 1976, havia estreado nas bancas. O problema era que a direção editorial não agradava ao artista.
A liberdade criativa acabava tolhida pelo estilo de fidelidade rígida ao humor apresentado no programa de TV, que impunha aos argumentistas e desenhistas os esquetes longos e outros elementos que funcionavam melhor na tela pequena, bem como um visual quase realista (ou menos caricato do que deveria ser) dos personagens. Para se ter uma ideia, no início as capas não traziam ilustrações e se valiam de fotos posadas com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
No primeiro ano, a revista chegou a dividir mensalmente suas páginas com histórias do Gato Félix, de Buck Zé e da dupla de bichanos Leco e Beto, um claro exemplo de como o gibi não se sustentava apenas com aventuras dos personagens-título.
A reação agressiva de Ely Barbosa foi um divisor de águas. A partir daquele momento, a revista tomou um rumo diferente e, como se fosse o fruto de um desvio de linha temporal que a salvou de um destino antes imutável, ganhou novo visual, conceito ousado - condizente com o amplo leque de possibilidades imaginativas de uma HQ - e ecletismo de estilos de desenho e humor. Tudo isso capitaneado pelo estúdio que ganhou plenos poderes para tocar a publicação à sua imagem e semelhança artística.
O resultado foi um gibi à parte do universo da televisão, seguindo um caminho próprio que não dependia da imagem do programa (apesar de usar quadros como aTrapasuat, paródia do seriado S.W.A.T., grande sucesso dos anos 1970) e conquistou os públicos jovem e adulto.
E assim, por uma década, permaneceu incólume diante de fatos significativos que aconteceram com o grupo humorístico nesse período, como a oscilação de índices de audiência do programa televisivo e a separação e reconciliação dos Trapalhões.
Liberdade criativa
Escracho. Surrealismo. Metalinguagem. E, por cima de tudo, uma boa dose de politicamente incorreto.
Histórias sobre mulheres, bebidas, malandragem, machismo e violência (no estilo caricatural dos cartuns, vale frisar); piadas de teor sexual; brincadeiras com homossexuais e outros temas apimentados que hoje seriam tratados com excessiva delicadeza foram marcas registradas da revista dos Trapalhões na Bloch.
A regra era deixar o humor correr solto, fosse de qualquer gênero, desde que não beirasse o limite do mau gosto, pois o gibi também era lido por crianças. Além disso, os humoristas ficavam de olho no que era feito com sua imagem nos quadrinhos, muitas vezes emitindo sugestões (à guisa de determinações) sobre o visual e características da personalidade de suas respectivas versões cartunescas.
Mas isso não impedia que a Censura - aquela com "C" maiúsculo, que imperava nos tempos da ditadura militar no Brasil - aprontasse com as HQs que estavam prestes a ser publicadas em Os Trapalhões.
O cartunista Bira, que trabalhou na revista entre 1980 e 1982 e no expediente assinava como Ubiratan Dantas, conta que fez o argumento e os desenhos de uma história - roteirizada por Orlando Costa - em que os super-heróis resolveram entrar em greve e exigiam, dentre outros benefícios, férias remuneradas e FGTS. À frente deles estava o Homem-Lula, referência nem um pouco sutil a Luís Inácio Lula da Silva, então líder sindical que provocava dores de cabeça nos militares.
A HQ foi alterada por ordem da editora.
"As ideias nonsense surgiam mesmo dos roteiristas. Sérgio Valezin, Genival Souza e Orlando Costa tinham uma imaginação muito fértil e se divertiam criando as situações mais inusitadas, como personagens soltos no vazio das páginas. O próprio Ely tinha histórias completamente doidas", lembra Bira.
Um bom exemplo dessa loucura criativa é uma piada rápida de página única, na qual Didi está parado ao lado de um ponto de ônibus e, repentinamente, surgem dois olhos com pernas e braços, que formam uma fila atrás dele. Diante da expressão curiosa de alguém que passa por ali e vê a estranha cena, vem a explicação infame do trapalhão: "Isso é um ponto de vista".
Tiradas
Os famosos super-heróis dos quadrinhos eram alguns dos principais motes para piadas. Super-Ômi, Super-Veio, Nega Maravilha (e seu grotesco poder de usar o odor das axilas para derrotar os vilões), Frangasma, He-Gay, Batimão e Robinho - este último, comumente afeminado - e muito mais supertipos foram alvos de diversas sátiras.
Outras criações dos gibis compareceram às páginas de Os Trapalhões, como Asterix, que virou Didirix, o "cearês" inimigo do império de Brizolanus - paródia de Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro.
Sobrava também para as atrações da televisão. Uma delas foi a minissérie policial Bandidos da Falange, produzida e exibida pela TV Globo em 1983, transformada em Bandidos da Solange no gibi. E ainda havia espaço para alfinetar programas de auditório badalados como oCassino do Chacrinha.
Personalidades como Michael Jackson, Silvio Santos, Xuxa e diversas outras não escaparam da verve satírica da revista e foram responsáveis por momentos clássicos da publicação, iconoclasta por natureza.
E se política, religião e futebol não devem ser discutidos, os quadrinhos dos Trapalhões não conheciam essa máxima. Por suas páginas desfilaram tiradas contra governadores de estado e presidentes da República, passando pelo sumo pontífice da Igreja Católica, papa João Paulo II, e não esquecendo de cutucar qualquer clube de futebol que calhava de estar mal das pernas no campeonato ou era rival do time de algum roteirista.
Na prancheta
Toda essa diversidade não se limitava aos roteiros. O estilo de cada desenhista era respeitado e permitia ao gibi uma fuga da padronização gráfica de quadrinhos como os da Turma da Mônica e da Luluzinha, sucessos contemporâneos de Os Trapalhões.
O model sheet criado pelo chileno Carlo Cárcamo, da primeira equipe de artistas da revista, era apenas um norte. "A gente seguia esse modelo com uma certa liberdade", afirma Bira.
Graças a isso, era possível ao leitor ter o seu desenhista predileto. Pelo gibi passaram nomes fortes no cenário das HQs nacionais, como Watson Portela e o ex-quadrinhista Disney Fernando Bonini.
Mas era o traço inconfundível de Eduardo Vetillo o que mais chamava a atenção. Isso explica a prolífica produção do artista no tempo em que esteve na revista.
O dinamismo e o exagero visual dos desenhos de Vetillo garantiam a comicidade das histórias ao simples passar de olhos do leitor.
Era também o artista que mais ousava na diagramação das páginas, invariavelmente lançando mão do artifício das cenas "sangradas", em que os personagens ou o cenário não obedecem aos limites dos quadros.
Por um breve período dos anos 1980, o desenhista fez um trabalho paralelo em outro gibi da Bloch, Spectreman, adaptação do seriado japonês homônimo exibido no Brasil.
Na década de 1990, Vetillo desenhou algumas HQsDisney para a Editora Abril, na qual precisou adaptar sua arte frenética ao estilo gráfico mais comedido dos personagens da turma de Patópolis.
Nas bancas
Foram 83 edições de Os Trapalhões publicadas até 1986. Durante esse tempo, outros títulos dos personagens foram lançados e formaram uma família com almanaques, superalmanaques e o spin-off Aventuras do Didi, título mensal que apresentava somente histórias do trapalhão mais destacado da trupe.
Um álbum com 210 figurinhas autocolantes, lançado pela Bloch em 1982, também fez parte dessa fase de multiplicação de títulos.
Em 1987, a revista aposentou o formatinho, cresceu para o formato americano e virouSuper Trapalhões, que em cada edição trazia histórias sobre um único tema, a maioria envolvendo super-heróis. No rol dos clássicos está a edição de estreia, com uma impagável sátira a Guerra nas Estrelas (Star Wars).
Na mesma época, a revista Aventuras do Diditambém mudou de conceito e formato, alterando o nome para Didi: Passatempos e Quadrinhos.
Ambos os gibis foram descontinuados no final daquele ano, depois de nove edições de cada título.
Quando perguntado sobre os motivos que levaram ao fim as HQs dos Trapalhões na editora Bloch, Ely Barbosa não soube (ou preferia não) responder com certeza. Mas especulava que os quatro humoristas tinham planos financeiramente mais rentáveis e, por essa razão, não renovaram o licenciamento.
"Na época, alegaram que as vendas estavam caindo. Mas acho que foi problema de contrato entre o Renato Aragão (o Didi) e a editora", faz coro o veterano Bira.
Se há alguma dúvida sobre isso, basta lembrar que em janeiro de 1988, cerca de três meses depois de suas derradeiras edições na Bloch, Os Trapalhões aportou na Editora Abril em uma versão diferente: dessa vez, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias eram crianças e suas aventuras passaram a ser produzidas por um novo estúdio, o do quadrinhista César Sandoval, criador da Turma do Arrepio.
Publicados por uma editora de maior porte e com revisão de posicionamento de mercado, os personagens, agora voltados exclusivamente para o público infantil, alcançaram sucesso na área de licenciamento e estamparam as embalagens dos mais variados produtos de diversos segmentos do varejo, condição nunca imaginada por sua encarnação anterior, que não gozava desse apelo.
Os pequenos trapalhões sobreviveram na Abril até 1994. Dois anos depois, a Bloch ensaiou a volta dos personagens adultos em As Aventuras do Didi, que não trazia as versões de Mussum e Zacarias - os humoristas haviam falecido no início daquela década.
Sem o mesmo estilo gráfico e conceitual da fase áurea que consagrou o gibi dos Trapalhões, a tentativa de revivê-la durou apenas três edições.
Um melancólico final que não abalou a rica história dos Trapalhões na editora.